domingo, 2 de setembro de 2012

A boneca

 Depois de tanto tempo ali parada senti que era a hora de ultrapassar os mesmos limites de sempre, aqueles que sempre insistiram em me manter ali quieta. Quando abri os olhos, me espantei com tal claridade, que de inicio incomodou meus olhos por não estar acostumada a ver com tanta clareza aquilo que acontecia, por  olhar sempre pelo olhar que os outros tinham. Quando resolvi tentar aqueles primeiros movimentos senti-me insegura por não estar acostumada a caminhar por mim, sabia que estava despreparada para tudo que viria mas ainda sim quis tentar sozinha, respirei fundo, peguei o máximo de impulso que pude, o tanto de coragem que me deu tempo de tomar e forcei-me a seguir em frente, forcei-me a dar aqueles passos novos, desajeitados, inseguros e meus, então dei meus passos. Cai no primeiro instante, baqueada e dolorida, olhei para trás, mas não! não voltei para aquele inicio, não teria tamanha covardia. Devagar me levantei, desequilibrei um tanto, andei como se estivesse em corda bamba, fiquei ali nas pontas dos pés, me cansei e então parei num canto quieto para descansar, fiz daquele canto o "meu canto", ali estive segura, renovei a coragem, alimentei a força e mantive o foco, vi dias passarem, noites amanhecerem mas não fiz nada enquanto não me sentia forte o suficiente para continuar. Após um tempo, vi que já estava na hora de continuar em frente, corri o mais rápido que pude, para que os pensamentos e as pessoas que a essa hora já sentiam minha ausência e os comentários que elas fariam não me fizessem desistir. Cheguei então... Finalmente cheguei a porta que traria mudanças, pessoas e momentos novos, lugares e mais lugares pra me dar novos modos de viver, novas razões e milhões de outros motivos para ser livre. Abri a porta e senti algo estranho, algo novo, sensação de alivio mesmo com um fardo que agora teria que carregar de ter deixado tanta coisa para trás, o fardo de ter magoado muita gente, e muita gente que me amava, que me ama. Antes que o sentimento de tristeza me invadisse pensei comigo mesma: "Calam pequena, isso tudo te fez mais forte e agora é só o inicio de uma caminho todo seu!".
 Apenas respirei, me joguei nessa nova jornada, quando abri aquela porta a primeira coisa que senti foi o ar que até hoje me acompanha e me faz lembra de todos os dias apenas respirar.
 Tem horas que me pego a perguntar se me arrependo, e não... mesmo tendo virado muita coisa do avesso eu achei o meu jeito de sorrir, de vivenciar e de dizer que sou feliz, então não trocaria a minha decisão por aqueles limites novamente! Sou feliz desde o dia em que resolvo sair daquela caixa de vidro, desde o momento em que tomei aquele impulso para que ela se despedaçasse no chão (mesmo tendo me cortado com os pedaços de vidro), ali vi minha liberdade. Corri para sair daquele quarto, magoei muitos com isso porque muitos as vezes não estão preparados para conviver com nossas mudanças, fechei rapidamente a porta e trago comigo a chave que me dá certeza de que nunca mais voltarei para aquela caixa de vidro.
Continuarei a ser uma boneca, boneca de pano, frágil, que se desgastou com o tempo, que sofreu retalhos, que se costurou para seguir em frente, boneca frágil, que enfrentou decisões e chorou (chora) lágrimas de solidão. Mas mesmo sendo boneca, serei livre. Nunca mais a boneca da caixa de vidro, desta vez sou uma boneca livre!